Quarta e última parte do artigo dedicado à Federal Reserve.
Boa leitura!
O verdadeiro rosto da Federal Reserve
Até aqui história e estrutura da Federal Reserve, o mais importante banco central do mundo.
Mas pode surgir uma dúvida: estamos em 2010, quase 2011, os tempos mudaram, não será precisa hoje uma organização de super-controle e regulação? Uma organização como a Fed?
Afinal o mercado demonstrou de não ser capaz de se auto-regular. Se nos Estados Unidos fosse implementada uma estrutura de controle, cedo ou tarde os outros Países também acabariam por adequar-se: afinal os EUA ainda é o mercado de referência.
Esta pergunta é legitima e implica muitas reflexões.
Vamos tratar só de duas.
A chave e o cofre
A primeira é a seguinte: qualquer organização de controle não pode ser privada.
Não funciona e ponto final.
É como entregar a chave do cofre aos ladrões, mesma coisa. Os resultados estão debaixo dos olhos de todos: a Fed nada fez para prevenir a actual crise.
E quando falamos de Fed, falamos de todos os bancos ocidentais, que dependem das decisões tomadas em Washington.
Como é possível imaginar a Federal Reserve, ou qualquer outro banco central, tomar posições contra a classe bancária?
Alguma vez viram um banco trabalhar contra o sistema bancário ou empresarial?
Como vimos, quem dirige a Fed são banqueiros e empreendedores.
O que leva ao segundo ponto: o que fez a Fed ao longo dos últimos anos para favorecer a transparência das instituições financeiras? Quais medidas para evitar a crise?
3.000.000.000.000 Dólares em segredo
Este mês foi revelado que no Outono do ano passado (2009) a Fed emprestou 3.000.000.000.000 de Dólares num só mês a centenas de multinacionais.
Emprestou no segredo absoluto, sem pedir garantias, com base em procedimentos discricionais de emergência. Sem pedir a autorização de ninguém.
Reparem: 3.000 biliões num só mês, todo dinheiro para empresas privadas.
Quais? General Electric, AIG, Fannie Mae, UBS na Suiça, Barclay's na Inglaterra, Deutsche Bank na Alemanha.
Que tem a ver isso com o trabalho de inspecção e regulamentação? Que tem a ver isso com a actividade de fornecer fundos para as empresas americanas?
O problema é que ao longo de 10 anos, a Fed tinha permitido a estas empresas criar e manipular milhares de biliões de produtos derivados sem o mínimo controle. As instituições financeiras de New York tinham ganho muito com este esquema. Mas estes produtos existiam só na fantasia de quem os criava.
Assim, quando rebentou a bolha de 2008 (a mesma da qual ainda estamos a sofrer), o castelo de areia desmoronou. No seu lugar, um buraco de milhares de biliões.
Nesta altura, a Fed tentou parar o vazamento, imprimindo e distribuindo dinheiro no mundo: todos aqueles que estavam implicados no esquema precisavam de dinheiro para pagar as dívidas. E, para evitar a falência de colossos como General Electric ou AIG, tudo foi feito às escondidas e depressa.
Problemas? E quais? Afinal quem manda na Fed são as mesmas empresas ou bancos.
Só agora, passados três anos, podemos conhecer os pormenores. Mas o tempo passou e já a notícia não merece as primeiras páginas dos jornais.
A Fed contra os controles
A Fed há muito que abdicou do próprio trabalho, a vigilância do sistema bancário americano, sempre admitindo que em qualquer altura possa efectivamente ter desenvolvido este papel.
Aliás, foi mesmo a Fed, com o seu homem mais importante na altura, Alan Greenspan, que pediu insistentemente para que fossem eliminados os controles sobre os produtos derivados; até contra o parecer da CFTC, a Comissão Federal que deveria regulamentar os derivados.
A FED, isso é os seus chefes Alan Greenspan, Kohn, Ben Bernanke, Mishkin, insistiram que os derivados eram produtos financeiros úteis e necessários e que não era justo controla-los.
Mas desta forma criou-se uma área financeira cinzenta (uma das muitas), fora de controle. Controle público, óbvio, mas não privado.
Uma excepcional reportagem do New York Times (aqui passada totalmente despercebida) explica a existência dum cartel de bancos privados de New York, que excluem qualquer outro banco ou fundo ou instituição do controle do enorme e obscuro mercado mundial dos derivados. E que impedem que haja qualquer tipo de controle. Os nomes? Os leitores já conhecem estes nomes: Goldman Sachs, Morgan Stanley, Citigroup, JP Morgan...
Um trabalho já feito
Porque a Fed protege este bancos privados?
Porque estes bancos privados SÃO a Federal Reserve, e vice-versa.
Porque o chefe da Fed de New York, Bill Dudley, até dois anos atrás era partner da Goldman Sachs.
Porque todo o pessoal da Fed de New York (lembramos, a mais importante das 12 agências da Fed) ou trabalhava nestes bancos privados ou neles trabalhará uma vez saído da Fed.
Porque ainda nesta semana, Peter Orszag, que tinha negociado com os chefes do Tesouro e da Fed para entregar centenas de biliões à Citigroup, demitiu-se da Fed. E tornou-se director de quem? Do Citigroup, com uma salário de 3 milhões de Dólares, mais bónus, óbvio.
A verdade é que não é preciso um banco central para controlar e regulamentar a actividade do credito.
Desde 2008 foram fechados cerca de 400 bancos médios e pequenos. Quem tratou deles? Deveria ter sido a Fed? Sim, mas a Fed não trata destas miudezas.
Foi a Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), uma entidade estatal, que tratou do assunto. A FDIC tem o poder de inspeccionar e fechar os pequenos bancos. Mas a FDIC não tem o mesmo poder no respeito aos grandes bancos de New York.
Porque os médios e pequenos bancos foram fechados sem a intervenção do dinheiro público?
Porque os grandes bancos (e, como vimos, também as grandes empresas privadas) foram salvas com o dinheiro público?
A resposta é simples: porque assim quis a Federal Reserve.
E nesta altura deveria estar claro que a Fed outra coisa não é a não ser uma cobertura. Um autentica cortina de fumo, crida para justificar decisões tomadas em outros lugares.
Os maiores economistas do mundo
É por isso que os governadores da instituição pouco ou nada percebem de economia.
Uma afirmação demasiado "forte"? Talvez. Mas façam o favor: reflictam sobre os seguintes dados.
Alan Greenspan, foi governador da Fed desde 1987 até 2007: não era professor, nem banqueiro, nem funcionário: tinha só uma falsa licenciatura.
Que fique claro: não há nada de mal no facto de não ter um título académico, a história é repleta de homens que conseguiram grandes coisas sem por isso serem "professores".
Mas então porque uma falsa licenciatura?
Resposta: porque era precisa para ser nomeado governador da Fed.
A revista Barron's, a mais prestigiada dos Estados Unidos em campo financeiro, quis espreitar a tese, mas não conseguiu.
Vários diários pediram à Universidade de New York uma cópia do documento, mas a instituição afirmou não estar na posse do documento.
Que parece ter sido só um conjunto de artigos e relatórios escritos por outros.
Assim, o mais potente economista do mundo foi nomeado graças a uma tese copiada, conseguida mesmo antes da nomeação e feita logo desaparecer.
É a mesma pessoa que em 1993 declarou perante uma comissão do Congresso dos EUA que não existiam os relatórios das reuniões da Fed. Anos mais tarde foi descoberta a existência de 17 anos de relatórios.
Estas são as pessoas que gerem os bancos do mundo.
E o actual director? Ben Bernake?
Nem é preciso procurar, é só lembrar das suas intervenções.
- Em 2006 escreveu que os preços dos imóveis reflectiam a força da economia dos Estados Unidos. Num só ano, os preços caíram -35% no sector residencial e -45% no comercial.
- Em 2007 afirmou que os subprimes era um problema "contido".
- No dia 22 de Setembro de 2008 afirmou que era preciso deixar falir Lehman Brother's, sem gastar 20 ou 30 biliões de dinheiro público para o resgate. Sete dias depois, no dia 29 de Setembro, pediu de urgência 700 biliões de Dólares, anunciando que em caso contrário era de esperar uma crise mundial pior da Grande Depressão.
- Pediu 700 biliões para o Tarp, o programa do governo para comprar acções das instituições financeiras em crise. Depois depositou este dinheiro nos bancos sem comprar nada.
- Na primavera deste ano anunciou estar pronto para retirar liquidez do mercado, pois a economia estava em clara retoma. Em Setembro fez uma inversão de 180 graus e anunciou a necessidade de imprimir outros 800 biliões (o Quantitative Easing 2) porque a economia estava em risco.
Agora, é só fazer as contas.
Ipse dixit.
Um comentário:
O mais curioso é que todos os envolvidos são judeus.
O que será que isso quer dizer???
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